A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM
Introdução:
Tendo em vista as dificuldades enfrentadas em sala de aula, para despertar o gosto e a motivação para a aprendizagem e sabendo-se que o lúdico é educativo, impulsiona a criatividade e a curiosidade a respeito da vida e o meio onde se vive, resolvi investigar o papel do lúdico e sua influência na construção de conhecimento.
A hipótese inicial evidenciada foi que o lúdico é uma forma de construir conhecimentos com prazer.
Com base nos estudos realizados percebe-se que esta é uma área que merece atenção especial, principalmente quando se parte do princípio de que o lúdico alimenta a criatividade, a imagem e a percepção do mundo como espaço que pode ser explorado.
A partir daí abrem-se inúmeras possibilidades para o desenvolvimento das potencialidades de cada um.
A atividade lúdica tem, para a criança, um efeito de transposição que, na fase adulta dará suporte e equilíbrio emocional, repercutindo também no processo social e cognitivo. Esses aspectos precisam estar em evidência na formação dos pedagogos, e devem estar ocupando os espaços educacionais desde as creches, na educação infantil e sucessivamente. O jogo e o brinquedo envolvem a criança de maneira agradável, desafiando-o a participar de corpo inteiro, de forma agradável, trabalhando desde a expressão corporal até motricidade fina, sem pressão sobre aspectos que devem ser desenvolvidos. A liberdade para criar alternativas ainda não pensadas, faz do ato lúdico um momento da ação do sujeito no espaço, onde, de forma prazerosa elabora seus conceitos. Isso nos mostra claramente Vigotsky quando afirma que é na interação que o sujeito constrói o seu conhecimento.
As brincadeiras infantis têm função resolutiva, portanto, através delas a criança vai elaborando questões simples do seu cotidiano, preparando-se para ser um adulto ponderado, com opiniões coerentes para as situações que se apresentam e aberto para encontrar alternativas de soluções para suas dificuldades. Os conflitos constroem internamente a ponte para as mudanças que se fazem necessárias no seu crescimento como indivíduo que tem vida própria, mas que se relaciona com diferentes grupos. Desse ponto de vista, o brinquedo é um dos recursos que deve ser estimulado na escola, especialmente hoje, quando a mídia incentiva o consumismo e coopera para a “adultização” da criança.
DESENVOLVIMENTO
Nos tempos de crises culturais a imagem do homem é a primeira a ficar abalada. A compreensão do homem tornou-se uma temática que preocupa a todos os humanistas, entre os grandes conflitos estão à ciências e à tarefa de superação de crise. Crise essa que não está isolada está vinculada à filosofia dos movimentos, ecologia humana, resgatando as harmonias naturais.
Diante da crise econômica, fome e violência, o homem sente-se ameaçado e busca o sentido humano. Tudo isso faz-nos pensar sobre os valores humanos.
Verifica-se, portanto que o sentido do homem está no passado ou deverá ser uma nova proposta de homem. A questão não está sendo resolvida, mas relançada a cada nova crise que abate sobre o homem. Pode-se dizer então que a interpretação do humano é relativa e depende do contexto sociocultural. Conclui-se, portanto que o sentido do homem não foi dado, precisa ser construído.
Os estudos antropológicos revelam que o sentido do humano difere de época e de cultura. Sendo assim, surgem várias imagens de homem e isso depende dos valores assumidos pelo grupo. Em resumo, difere-se a questão em duas: Uma divina, outra racional. A divina é aquela que conduz a sua existência dentro dos princípios da espiritualidade e a racional foi definida pela capacidade de raciocinar. O homem porque é portador da razão.
O mundo está ordenado racionalmente e a maturidade do homem está em atingir o mais alto grau da racionalidade, visando e buscando a melhor forma de sobrevivência.
Hoje vivemos no mundo dói trabalho e tudo é visto a partir do trabalho. É ele que define o modo de ser do homem, pois é através do trabalho que o homem constrói e a si mesmo. É através do trabalho que se busca a valorização, lucro e sobrevivência, transformando-o em mercadoria o produto do trabalho, embrutecendo o homem.
Pensando nesta realidade, buscam-se outras alternativas que escapem da ideologia do trabalho.
Tudo parece indicar que o brincar não faz parte do mundo das ciências e da tecnologia e que não tem nada a ver com o pensamento racional e com os parâmetros do trabalho. Mas, como o ser humano está sendo ameaçado pela racionalidade e tecnológica, o lúdico pode tornar-se a tábua da salvação.
Quando se fala em brincar surge na mente, criança, trabalho e uma atitude pouco séria. O brincar não só faz parte da vida da criança. Como é a própria criança, toda sua vida é inundada pelo lúdico, basta observá-la. Brinquedo e criança são inseparáveis e necessários para o desenvolvimento integral da criança.
“ Se desejarmos formar seres criativos, críticos e aptos para tornar decisões, um dos requisitos é o enriquecimento do cotidiano infantil com a inserção de contos, lendas, brinquedos e brincadeiras.” ( Kishimoto: Artigo retirado da internet.
Vygostski (1988) indica a relevância de brinquedos e brincadeiras como indispensáveis para a criação da situação imaginária. Revela que o imaginário só se desenvolve quando se dispõe de experiência que se reorganizam. A riqueza dos contos, lendas e acervos de brincadeiras constituirão o banco de dados de imagens culturais utilizadas nas situações interativas. Dispor de tais imagens é fundamental para instrumentalizar a criança para a construção o conhecimento e sua socialização.
“Ao brincar, a criança movimenta-se em busca de parceria e na exploração de objetos, comunica-se com seus pares, se expressa através de múltiplas linguagens, descobre regras e toma decisões.” ( Kishimoto: Artigo retirado da internet). A criança relaciona-se e interage com ela e com o mundo, estimula sua criatividade, aprende a lidar com situações e com as emoções no ato de brincar. Parece sem significado apenas brincar, porém é uma atitude lúdica criativa, que através do faz de conta ela entra no mundo adulto, expõe sua ansiedade, suas preocupações, emoções e até mesmo seus problemas vivenciados na família por ela. O lúdico é um instrumento para que o educador observe e analise o comportamento e a atitude da criança, saudável ou não, para posteriormente ser trabalhado e encaminhado, se necessário.
O indivíduo, criança ou adulto, ao brincar transforma a realidade, cria personagens e mundos ilusórios, coloca-se diante do risco, do imprevisto, do suspense.
A ludicidade é uma dimensão humana que alegra ao perceber outras possibilidades de ver as coisas ou trata-las.
Percebe-se que no mundo de hoje, a maneira de brincar e s brinquedos são outros, até mesmo mecânicos e poucos criativos, não exploram muita a imaginação. A tecnologia, os meios de comunicação, tem contribuído para que a criança não explore o mundo e brinque mais livremente. Cabe dizer aqui, que precisam ser resgatados os valores e a cultura dos tempos passados em relação ao brincar. Leva pensar também que a escola tem possibilidades de tornar as aulas mais divertidas e agradáveis, fazendo uso da ludicidade, podem-se reunir os saberes elementares da escola, com a cultura dos algum os e de suas famílias: A música, a dança, lendas, teatro, jogo e brincadeiras oferecidas pelo folclore infantil. Fazer uso do meio, da natureza e de seu saber para construir novos conhecimentos..
“As imagens sociais dos tempos passados perdem-se, guardados em gavetas que não forma mais abertas em virtude do novo modo de vida dos tempos atuais que impedem a transmissão oral dentro de espaços públicos. Cabe a escola a tarefa de tornar disponível o acervo cultural dos contos, lendas e brincadeiras tradicionais que dão conteúdo à expressão imaginativa da criança, abrir o espaço para que a escola receba outros elementos da cultura que não a escolarizada para que beneficie e enriqueça o repertório imaginário da criança.” (Kishimoto: Artigo retirado da internet).
O Brasil, por ter uma população com mistura de muitas raças, sua cultura é riquíssima. Tem influência europeia, indígena e negra. Entre essas influências, encontramos o jogo. Acredita-se que o papagaio de papel ou pipa, foi de influência portuguesa, era chamado pelos portugueses de estrela, raia, arraia, papagaio, bacalhau ou gaivotão.
A colonização portuguesa contribuiu com jogos tradicionais populares como; jogo dos saquinhos, amarelinha, bolinha de gude, jogo de botão, pião e outros, versos, adivinhas e parlendas também. Assim como se sabe também que os italianos trouxeram o biboque, o jogo com cartas, o uso de dado , as marionetes, chamado de fantoches, danças, músicas, etc. entre vários outros jogos de outras influências culturais. Comprovando a existência do jogo em todas as gerações, raças e culturas históricas.
Desde o início das sociedades, o jogo foi visto como uma relação, uma troca dentro de regras. É fundamental para a formação da personalidade, pois viemos do movimento e através dele nos desenvolvimentos, para alguns autores o jogo é mais antigo que o trabalho.
“Pouco se sabe sobre a história dos jogos, mas acredita-se que todos os povos os praticam. Acredita-se que suas origens remontam as cerimônias e rituais religiosos. Costumes antigos e ritos ligados ao longo do passado do homem. Entre as causas de sua existência incluem-se o espirito lúdico e a necessidade humana de comunicação, da qual as brincadeiras infantis são as primeiras manifestações. Todos os tipos de jogos desempenham importante papel no desenvolvimento físico e espiritual do indivíduo… capacita a criança a enfrentar situações de medo e estrutura as atividades emocionais para a vida adulta.” (artZEROnet).
Pode-se dizer que o jogo é fundamental para o desenvolvimento da criança e ele faz parte do desenvolvimento da mesma, criança de zero a quatro anos vive num espaço compreendido entre o prazer e sua evocação. Esse espaço é ocupado pela brincadeira, pois, na ausência do prazer, a criança evoca sua presença brincando.” (LIMA, site da revista do professor).
Por esse motivo é de que observamos a criatividade e a imaginação da criança, ela cria personagens, conversa, inventa histórias, brincadeiras de pequenos objetos, cria maneiras diferentes de brincar. Através da brincadeira ela elabora sentimentos, relações e interpelações constroem seu lugar no mundo. Torna-se, portanto fundamental que a criança brinque.
Piaget dividiu os períodos do desenvolvimento humano de acordo com o aparecimento de novos esquemas, ou seja, qualidade de pensamento que interfere no desenvolvimento global.
O período que vai desde o nascimento aos dois anos ele chamou sensório-motor, pois a criança conhece o mundo através da manipulação e do movimento. O desenvolvimento físico que se efetivas neste período é o suporte para o desenvolvimento ósseo, muscular e neurológico, que permite à criança a habilidade de sentar, engatinhar e andar, que culminará na conquista, através da percepção e dos movimentos, de todo universo que a cerca. A criança evolui dos movimentos reflexos aos automatizados e chega aos voluntários. Assim os brinquedos destinados a essa fase devem facilitar essa evolução motora;
Ao período que vai dos dois anos ele chamou pré-operatório ou das operações concretas, no qual ocorre à conquista da linguagem e alterações de ordem intelectual, afetiva e social na vida da criança, com o aparecimento da linguagem o pensamento acelera e assim seu interesse por diferentes atividades e objetos se amplia. O desenvolvimento da coordenação motora fina, possibilitando que consiga segurar o lápis e que deixa sua marca no mundo através do desenho da escrita. Nessa fase os brinquedos devem facilitar a criatividade e o simbolismo da criança.
Brincando a criança interpreta o mundo adulto, estrutura seus pensamentos e elabora seus conflitos. O bom brinquedo deve estimular a atividade mental e física da criança.
Brincar é fundamental saúde física, emocional e intelectual da criança, contribuindo para o equilíbrio do adulto. É um ato de auto expressão e auto realização. As atividades livres com blocos e peças de encaixe, as dramatizações, as músicas e as construções desenvolvem a criatividade, pois exigem que a fantasia entre em jogo. Já o brinquedo organizado, que tem uma proposta, requer desempenho, como os jogos de quebra-cabeça, dominó e outros, consistem num desafio e estimula e desafia a criança.
As situações problemas contidas na manipulação dos jogos e brincadeiras fazem a criança crescer, através da procura de soluções e de alternativas. O desempenho psicomotor da criança enquanto brinca, alcança níveis que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. Como consequência, a criança fica mais calma, relaxada e aprende a pensar, estimulando sua inteligência. (SOUZA, Saúde Vida On line art.68).
Tendo em vista que a motivação é importantíssima para que haja aprendizagem comprova-se assim, que o jogo é motivador da mesma e que favorece a criação de esquemas mentais e o uso do pensamento lógico na solução do problema. Como o ato de brincar é prazeroso, daí o estado de relax e calma.
Piaget diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança. Ele afirma:
O jogo é, portanto, sob as duas formas essenciais de exercícios sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Poe isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando elas chegam a assimilar as realidades intelectuais que, jogando elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil (Piaget, 1976,p.160).
A criança deixa, por exemplo, de ser egocêntrico, percebendo o grupo, na relação com o outro através do jogo e assim também a existência de regras e conceitos como: nem sempre se ganha, às vezes perde-se também, a socialização, entre outros. É bem ampla as contribuições do jogo, em todas as áreas do conhecimento. O jogo acompanha a criança de forma intencional desde o início de sua existência, na exploração do mundo e dos objetos com os quais entra em contato e desvela.
Quando pega um objeto, brinca, não devemos interromper seu pensamento, devemos apenas sugerir, estimular, explicar sem impor nada, ela irá descobrir através da mediação do adulto. Quando ainda bebê, por exemplo, pega o brinquedo, observa, põe na boca, sacode, escuta se faz barulho, joga no chão e faz construções utilizando-se dos sentidos para depois descobrirem como se brinca e até criam outras formas de brincar com determinado brinquedo.
Sabendo da importância do lúdico para o desenvolvimento da criança, ela diferente do adulto, só deve brincar, pois precisa brincar para crescer, precisa do jogo como forma de equilibração com o mundo.
A criança se desenvolve e constrói conhecimento brincando, sejam brinquedos simples ou complexos, sendo assim ela assimila o sentido geral do jogo e atua neles, utilizam-se de regras que orienta as ações, essas são discutidas no grupo, e subordina-se a essas regras, porém podem ser mudadas. Sendo assim, o jogo, o lúdico é uma prática excelente para tornar o aprendizado prazeroso, e de sucesso, tanto o educando, quanto ao educador. O lúdico é um mediador entre o ensino e a aprendizagem.
CONCLUSÃO
Em vista dos argumentos apresentados e analisados para a criação desse artigo, conclui-se que o lúdico faz parte do desenvolvimento da criança, é um ato social e cultural. Social porque estabelece interações desde cedo e cultural porque são introduzidas e constituídas assimilando e recriando o mundo dos adultos.
Vivemos em tempo de crises culturais, no mundo do trabalho, tudo é visto a partir do trabalho, sendo assim, o brincar não faz parte do mundo de ciências e da tecnologia e não tem nada a ver com o mundo do trabalho. Mas como o humano está sendo ameaçado pela realidade racional e tecnológico, o lúdico pode tornar-se salvação.
Se desejarmos criar seres criativos, críticos e autônomos precisa-se enriquecer o dia-a-dia infantil com contos, lendas, brinquedos e brincadeiras, pois o lúdico é fundamental para a sua formação sociocultural e de sua personalidade.
A ludicidade é uma dimensão humana que alegra ao perceber outras possibilidades de ver as coisas ou de tratá-las.
Brincando, a criança desenvolve a mente e é fundamental à saúde física, emocional e intelectual, sendo assim um meio de tornar a aprendizagem mais prazerosa e estimular a criança a construir conhecimentos novos, aprimorando a prática pedagógica e melhorando a qualidade do ensino nas escolas e na sociedade.
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Escrito por Carina Ferreira