Morre Lauro Hagemann, o Repórter Esso gaúcho
O radialista Lauro Hagemann, de 84 anos, morreu nessa segunda-feira, no Hospital Mãe de Deus, onde permanecia internado desde o fim de abril. Um dos filhos do locutor, o cientista político e diretor do Daer Lauro Roberto Hagemann, comunicou o falecimento em uma rede social. O velório ocorre a partir das 9h desta terça-feira na Assembleia Legislativa. O corpo segue no fim da tarde para o Crematório Metropolitano São José.
Ex-deputado estadual e ex-vereador da Capital, Hagemman nasceu em 1930, em Santa Cruz do Sul, e se tornou um dos maiores nomes do radiojornalismo gaúcho e brasileiro. Trabalhou na Rádio Guaíba, participando da chamada Rede da Legalidade, em 1961, e voltou à emissora em 1969, após ter tido o mandato de deputado cassado pela Ditadura, por meio do Ato Institucional nº 5 (AI-5).
Antes disso, e durante 14 anos (entre 1950 e 1964), ficou conhecido como a voz do Repórter Esso, um dos primeiros programas de radiojornalismo do País, transmitido pela Rádio Farroupilha. Também passou pelas emissoras Progresso, de Novo Hamburgo, Pampa e Universidade.
Ainda em 1963, foi eleito o primeiro presidente do Sindicato dos Radialistas, em virtude do trabalho que desenvolveu em prol da categoria. Foi no mesmo ano que se aproximou do PCB, considerada ainda uma sigla ilegal. Em 1963, inscrito pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), elegeu-se vereador suplente de Porto Alegre. Assumiu o mandato mais tarde, em maio de 1964, já em meio ao golpe militar. Dois anos depois, foi eleito deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
No fim do período militar, presidiu o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre, de 1980 a 1982, ano em que voltou a ser eleito vereador pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Após a legalização do PCB, em 1985, passou a integrar a primeira bancada comunista da Câmara de Porto Alegre. Permaneceu no Parlamento até 2000. No ano anterior, foi o relator sistematizador do Plano Diretor da Capital. Em 2001, deixou o então PPS (sigla adotada pelo antigo PCB a partir de 1991) e, em 2007, retornou ao PSB.
“Nunca transigi com a iniquidade. Sempre combati aqueles que queriam se apoderar do mundo”, disse Hagemann, ao receber, em 2010, aos 80 anos, o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. “Tenho ainda uma ânsia de vida muito grande. Não desanimo em continuar lutando por aquelas coisas que me parecem justas. Continuo lutando pela transformação da sociedade. Quero ser lembrado apenas pelo que me é mais caro: a retidão de caráter”, completou. E, ao fim da cerimônia, agradeceu e dedicou a homenagem à capital gaúcha: ”Por ideologia, sou avesso à propriedade. Não tenho predileção pelo que é meu e sim pelo que é nosso”.
Cadeia da Legalidade
Em 1961, a Rádio Guaíba cedeu equipamentos para a utilização na campanha em prol da posse de Jango na Presidência, após a renúncia de Jânio Quadros. Os manifestos e as notícias eram transmitidos do porão do Palácio Piratini por funcionários e jornalistas do governo.
Hagemann resolveu utilizar o prestígio que tinha (em função do Repórter Esso) em nome da causa. No dia 27 de agosto, ele se apresentou no Palácio, dando início à Cadeia da Legalidade. A partir daí, colegas de outras emissoras, sem trabalhar (já que as rádios permaneceram fora do ar), se integraram ao movimento.