Mandante de chacina em Soledade é condenado a 118 anos de prisão
Um dos crimes mais sangrentos da história de Soledade foi revivido no júri realizado no fórum de Soledade nesta terça-feira (25). Por aproximadamente 10 horas, esteve sendo julgado o pecuarista Mairol Batista da Silva, 42 anos, acusado de ser o mandante de uma chacina ocorrida em 2001 na fazenda Santo Augusto, no interior do município.
Intensos debates entre defesa e acusação foram feitos durante todo o dia na sessão foi presidida pela juíza da Vara Criminal Karen Luise de Souza Pinheiro. O Ministério Público esteve representado pelos promotores Fabiano Dalazen e Tânia Maria Bitencourt. Na acusação atuou o advogado Nereu Lima.
Por volta das 21h a juíza presidente do júri, iniciou a leitura da sentença que condenou Mairol batista à 118 anos de prisão por seis homicídios duplamente qualificados e uma tentativa de homicídio. Embora o cumprimento da pena seja em regime fechado, Mairol poderá recorrer em liberdade. OUÇA A LEITURA DA SENTENÇA NO PLAYER ACIMA
Em sua defesa o advogado Osmar Teixeira alegou que houve falhas na avaliação das provas e a mesma pessoa que acusou Mairol, também revelou outros nomes que não foram investigados, havendo aí uma desigualdade. A todo tempo ele apontou Mairol como um “ Bode Expiatório” e para confirmar isso, apresentou uma série de outros crimes cometidos após a chacina, que segundo ele, tiveram ligação direta ao fato.
Já o Ministério Público sustentou a figura de Mairol como o mentor intelectual do crime. Sendo que a motivação principal seria seu inconformismo com a venda de terras da fazenda de sua família a uma das vítimas.
O CRIME
Conforme o conteúdo que consta no processo, o crime teve início no dia 7/09/2001 por volta das 17h. Na oportunidade, Márcio, armado com um revólver cal. 38, que lhe foi entregue por Mairol, e um revólver cal. 32, que pegou na propriedade da vítima Augusto, aproveitando-se da confiança que lhe era depositada por todos as vítimas, foi até a casa da sede da Fazenda Santo Augusto, onde primeiro desferiu tiros contra a vítima Iranez Salete Graeff, imediatamente após desferiu tiros contra a vítima Lia Mara Cavalli Ghion, que estavam dentro da casa, e logo desferiu um tiro contra a vítima Alexsandro Graeff, que tentava fugir, matando todos.
Posteriormente, Márcio ficou escondido nas proximidades da porteira de entrada da Fazenda Santo Augusto, esperando a chegada da camioneta Ranger, dirigida pelo seu patrão Augusto Ricardo Ghion, que chegaria da cidade. Já escuro, por volta das 19h, chegou na porteira a camioneta e parou para o capataz desembarcar a abrir a porteira de entrada. Neste momento, Márcio se aproximou da camioneta, pelo lado esquerdo da mesma, sem falar nenhuma palavra, a pequena distância, disparou tiros contra a vítima Augusto Ricardo Ghion, que estava sentado ao volante da camioneta, e imediatamente disparou tiros contra o capataz Olmiro Adelar Graeff, que estava abrindo a porteira, matando-os.
Como a adolescente Joana Cavalli Ghion, filha de Augusto, que estava sentada no banco dianteiro direito da camioneta, tivesse falado algumas palavras para Márcio, notando este que havia sido reconhecido por Joana, disparou trios contra esta, causando-lhe lesões, e imediatamente atirou também contra a vítima Ana Marina Spalding Cavalli, que estava sentada no banco traseiro da camioneta, matando-a e logo fugiu do local.
Márcio foi preso horas depois pela Brigada Militar. Naquela ocasião foram apreendidas várias armas, sete revólveres e duas espingardas na residência de Mairol, na sua fazenda, e na casa de sua mãe Marisa Elmerinda S.B. da Silva, além de duas espingardas que Márcio havia escondido num mato na propriedade de Mairol.
Como fator motivador do crime está o fato de que o pecuarista Mairol tinha algum desentendimento com a vítima Augusto Ricardo Ghion por problemas de compra e venda de terras, pois seu pai Erol, já falecido, havia vendido terras para Augusto, além de problemas de divisa entre propriedades e passagem de veículos agrícolas de Augusto pelas terras de Mairol. Conforme consta no processo, Mairol prometeu pagar a Márcio a importância de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) para que praticasse os delitos, com pagamento após a consumação dos fatos.
O inquérito foi encaminhado à Justiça 10 dias após o fato, pelo delegado Edson Tadeu Cezimbra, responsável pelas investigações, que indiciou os dois pelas mortes. Os detalhes do crime foram explanados na reconstituição da chacina, ocorrida um mês após. Com a conclusão do inquérito, Mairol foi preso preventivamente, mas aguarda julgamento em liberdade.
Réu confesso, Camargo foi encaminhado a Penitenciária Modulada de ijuí, de onde conseguiu escapar e voltou a Soledade, sendo que em 2003 foi morto após uma troca de tiros em um salão de bailes. Na ocasião Márcio atirou e matou Erenide da Silva Oliveira, conhecido como grilo e foi atingido por um tiro. Ferido, ele tentou fugir mas não conseguiu, sendo encaminhado a um hospital em Passo Fundo, mas acabou falecendo.
Ao longo do processo diversos fatos tumultuosos foram registrados, sendo foi cogitada a possibilidade de que Márcio não teria morrido, para tal comprovação o corpo chegou a ser exumado. Também entrou na discussão processual a possibilidade de que outros crimes cometidos nos anos seguintes tivessem ligação com o caso. Entre eles está a morte de Antônio Carlos Morais Casagrande conhecido como Kikão e também do advogado criminalista Júlio César Serrano.