Durante a investigação do assassinato de Paula Perin Portes, 18 anos, em Soledade, a Polícia Civil descobriu que um dos envolvidos na morte da jovem estava planejando executar um sargento da Brigada Militar que atua na cidade. Considerado o líder do tráfico na região e um dos membros de uma facção que tem base no Vale do Sinos, o suspeito de arquitetar a morte de um PM está preso e foi indiciado por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e organização criminosa após a conclusão do inquérito do caso Paula. No sábado (17), uma operação foi deflagrada para desarticular a organização e sufocar o plano.
Responsável por liderar as investigações do homicídio da Paula, morta por asfixia em junho deste ano, a delegada Fabiane Bittencourt afirma que uma testemunha relatou a existência do plano de execução do PM. A intenção dos criminosos seria executar o sargento em um supermercado de Passo Fundo, onde policial fazia compras uma vez por mês. A investigação levantou também que a facção traria um fuzil da Região Metropolitana para cometer o crime.
— Antes da prisão do grupo, pela morte da Paula, eles estavam orquestrando a morte do PM. Em contato com o policial, confirmamos que ele fazia compras nesse local. O plano estava no papel. Se não tivessem sido presos pela morte da Paula, o crime poderia ter sido efetivado — afirma a delegada.
O alvo dos criminosos é um sargento atuante no combate ao tráfico de drogas, responsável por diversas prisões no município. Ao tomar conhecimento do plano, a polícia elaborou um relatório de inteligência e enviou os órgãos de segurança, inclusive a Brigada Militar, para a análise de risco.
Ao mesmo tempo, a polícia passou a agir para desestruturar a organização em Soledade. Os investigadores levantaram todos os principais pontos de tráfico de drogas e, no último sábado (17), deflagraram uma operação com foco em 26 locais de comercialização de entorpecentes. O objetivo da ofensiva, que contou com 72 PMs e 106 policiais civis, foi desarticular o grupo e frustrar o plano criminoso de assinar o sargento.
— Mesmo com eles presos, há braços fora do presídio gerenciando o crime e, por isso, existia o risco da execução. Acreditamos que agora, após, a operação, não mais. Queríamos que eles tomassem conhecimento que a polícia sabia do plano. Tínhamos conhecimento que o crime poderia ocorrer nos próximos dias e tivemos de dar agilidade na operação. Nosso objetivo era combatê-los e dar uma resposta a essa situação — detalha Fabiane.
Além de nove pessoas detidas, foram apreendidas armas, munições, drogas, R$ 12 mil em dinheiro, 21 celulares, tablet, cigarros contrabandeados e carne de caça. Durante a operação, dois presos tentaram atropelar policiais. A dupla também será investigada por tentativa de homicídio.
— Percebemos um desrespeito e uma ousadia. Em minha carreira como policial não havia testemunhado tamanho desprezo pelas forças públicas por parte da criminalidade como aqui — admite a delegada.
Além do plano de executar um PM, a polícia identificou que a vida pessoal de Fabiane também vinha sendo monitorada por criminosos, inclusive com informações de familiares da investigadora. Na semana passada, dias antes da operação, um drone foi visto sobrevoando a casa da delegada. A suspeita é de que equipamento tenha sido usado pelos suspeitos.
— Verificamos com vários moradores e não identificamos o proprietário do aparelho. Soube que estavam fazendo uma verificação completa da minha vida, inclusive de situações bem específicas. A investigação da morte da Paula possibilitou a descoberta de muita coisa, começamos a mexer, a ir atrás e deparamos com toda uma situação criminosa que existia na cidade — diz a delegada.
A delegada explica que no caso do planejamento da morte do policial, como não houve indício da execução – existiam apenas os atos preparatórios –, o suspeito, em tese, não pode ser responsabilizado por um crime não iniciado.
Fonte: GaúchaZH.