STJ encerra ação por não haver provas contra o dentista no caso do sumiço de Potric
Um caso que mexeu com o município de Anta Gorda, no Vale do Taquari, teve mais um capítulo nesta semana. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a decisão que encerra a ação contra o dentista Carlos Alberto Weber Patussi por envolvimento no sumiço do bancário Jacir Potrich, 55 anos. O gerente do Sicredi desapareceu em novembro de 2018 e o vizinho acabou sendo acusado de assassinato, embora o corpo nunca tenha sido localizado.
Patussi já não estava respondendo pelo crime porque em agosto do ano passado o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já tinha decidido suspender a ação por entender que não havia provas suficientes para manter o processo contra o dentista. Mas o Ministério Público do Rio Grande do Sul recorreu ao STJ, que acabou mantendo a decisão. Agora, segundo o advogado de defesa do dentista, Paulo Olímpio Gomes de Souza, como o caso transitou em julgado, não cabe mais recurso. Ou seja, a ação foi encerrada.
— É uma decisão que exclui a possibilidade de Patussi ter participado ou contribuído para o desaparecimento. A confirmação pelo Tribunal Superior absolve completamente e retira qualquer responsabilidade com o desaparecimento de Jacir Potrich. Falo em desaparecimento porque até hoje não se tem prova da morte. Se elegeu um culpado pelo desaparecimento de Jacir. Sem provas, sem condições nenhuma. Uma enorme injustiça, tudo para dar respostas à sociedade rapidamente, para a resolução de um caso, que até hoje não está resolvido. As investigações precisam ser retomadas — afirmou o advogado.
Sobre o dentista, o criminalista afirmou que o cliente “está muito feliz” com o desfecho da ação, mas que a família ainda sofre com a repercussão do caso. Patussi chegou a ser preso duas vezes sob a acusação de matar e ocultar o corpo do vizinho. Os dois moravam no mesmo residencial em Anta Gorda.
— Ele, a esposa e os filhos sofreram com toda essa acusação injusta e infundada e pelo estrépito que isso gerou, ficou profundamente afetado. E agora o Superior Tribunal de Justiça (STJ) chancela a sua inocência. Isso é confortador para ele e para a família — disse.
Em novembro, quando o caso completou um ano, Patussi afirmou por telefone à reportagem de GaúchaZH que estava abalado com a repercussão. Nesse momento, a ação contra ele já estava suspensa.
— É algo muito triste isso. Meu mundo caiu. Foi uma tragédia para a outra família, mas para a minha também. Para todo mundo — disse, na época.
Segundo o promotor André Prediger, que foi responsável pela acusação de Patussi, com o trânsito em julgado não há nada mais a ser feito neste processo.
— Ressalto apenas que, se surgirem provas novas, ainda não constantes dos autos, o caso pode ser reaberto —afirmou o representante do Ministério Público.
Sobre o desaparecimento de Potrich, o promotor afirmou que a Polícia Civil pode continuar a investigação, já que o caso segue sem solução.
— Sempre que surgirem provas novas pode-se desarquivar o processo anterior, se as provas apontarem para o mesmo réu, ou mesmo inaugurar um novo processo, se as provas apontarem o outro suspeito — explicou.
O caso na Justiça
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por meio da 1ª Câmara Criminal, decidiu por unanimidade em agosto do ano passado trancar a ação penal, por entender que não havia provas de que Patussi tivesse envolvimento no sumiço do vizinho.
Dessa decisão, houve recurso do MP-RS, entendendo que a ação deveria prosseguir. Esse recurso teve seguimento e foi distribuído à Sexta Turma do STJ, sob relatoria do ministro Sebastião Reis Júnior, que encaminhou ao Ministério Público Federal. O subprocurador-geral da República, Moacir Mendes Sousa, deu parecer no sentido de não dar provimento ao recurso do MP-RS.
Em março de 2020, o relator, ministro Sebastião Reis Júnior, acolheu o parecer do MPF e entendeu que o recurso deveria ser improvido, e assim fez. Não houve recurso contra a decisão, que transitou em julgado nessa segunda-feira.
O sumiço
Em novembro de 2018, Jacir Potrich sumiu do residencial onde morava com a esposa e um sobrinho dela. Na última vez em que foi flagrado pelas câmeras do condomínio onde morava, seguia para um quiosque. Os peixes foram limpos e guardados na geladeira. Familiares chegaram a oferecer recompensa de R$ 50 mil por informações sobre o paradeiro do bancário. A polícia chegou a trabalhar com a suspeita de sequestro, por conta da profissão de Potrich, mas acabou descartando a hipótese. Nenhum pedido de resgate foi feito.
Em 23 de janeiro, Carlos Patussi, vizinho do bancário, foi detido em um apartamento em Capão da Canoa, no Litoral Norte. A Polícia Civil e o MP acusaram o dentista de ter matado o gerente estrangulado dentro do quiosque e escondido o corpo. Imagens mostravam o dentista mexendo nas câmeras de segurança do condomínio e caminhando sobre o telhado da casa. A acusação entendia que ele teria alterado os equipamentos para não ser flagrado transportando o corpo. Ele afirmou, no entanto, que estava limpando as câmeras. Buscas foram realizadas na propriedade, mas o cadáver do bancário nunca foi localizado.
Texto: GaúchaZH