Sete gaúchos são alvos de inquéritos autorizados por Fachin na Lava Jato
Sete gaúchos estão na lista de pedidos de abertura de inquéritos feitos pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), revelada pelo jornal Estado de S.Paulo na tarde desta terça-feira (11). No começo da noite, o STF liberou a lista oficialmente. No grupo estão o ministro da Casa Civil, Eliseu Lemos Padilha (PMDB-RS), quatro deputados federais – Marco Maia e Maria do Rosário (PT), Onyx Lorenzoni (DEM) e Yeda Crusius (PSDB) – e os ex-diretores-presidentes da Trensurb Humberto Kasper e Marco Arildo Prates da Cunha.
Ao todo, a lista contém os nomes de nove ministros do governo Temer, 29 senadores e 42 deputados federais, entre eles os presidentes das duas Casas – como mostram as 83 decisões do magistrado do STF obtidas pelo jornal. O grupo faz parte do total de 108 alvos dos 83 inquéritos que a Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas delações dos 78 executivos e ex-executivos do Grupo Odebrecht, todos com foro privilegiado no STF. Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff não aparecem nesse conjunto porque não possuem mais foro especial. O Estado teve acesso a despachos do ministro Fachin, assinados eletronicamente no dia 4 de abril. Também serão investigados no Supremo um ministro do Tribunal de Contas da União, três governadores e 24 outros políticos e autoridades que, apesar de não terem foro no tribunal, estão relacionadas aos fatos narrados pelos colaboradores.
As investigações que tramitarão especificamente no Supremo com a autorização do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, foram baseadas nos depoimentos de 40 dos 78 delatores. O presidente da República, Michel Temer (PMDB), é citado nos pedidos de abertura de dois inquéritos, mas a PGR não o inclui entre os investigados devido à “imunidade temporária” que detêm como presidente da República. O presidente não pode ser investigado por crimes que não decorreram do exercício do mandato. Os crimes mais frequentes descritos pelos delatores são de corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, e há também descrições a formação de cartel e fraude a licitações.
Os pedidos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foram enviados no dia 14 de março ao Supremo. Ao todo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhou ao STF 320 pedidos – além dos 83 pedidos de abertura de inquérito, foram 211 de declínios de competência para outras instâncias da Justiça, nos casos que envolvem pessoas sem prerrogativa de foro, sete pedidos de arquivamento e 19 de outras providências. Janot também pediu a retirada de sigilo de parte dos conteúdos.
Veja por quais crimes os políticos serão investigados:
Eliseu Padilha: corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro, em dois inquéritos.
Yeda Crusius: corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Marco Maia:falsidade ideológica eleitoral (caixa 2), corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Onyx Lorenzoni: falsidade ideológica eleitoral (caixa 2).
Maria do Rosário: falsidade ideológica eleitoral (caixa 2).
Humberto Kasper: corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Marco Arildo Prates da Cunha: corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Contrapontos
O que diz Eliseu Padilha:Por meio de sua assessoria de comunicação, o ministro afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso no momento.
O que diz Onyx Lorenzoni:”Tenho absoluta tranquilidade dos meus procedimentos e vou em busca dos esclarecimentos. Se puder, vou abrir mão do meu foro privilegiado. Devo isso aos meus eleitores, que confiaram em mim. Se alguém me mostrar uma foto, uma conversa, uma ida com alguém da Odebrecht, eu renuncio ao meu mandato.”
O que diz Marco Maia:”São completamente mentirosas essas informações. Não há absolutamente relação minha de pedido de qualquer ilegalidade para ter qualquer benefício desta ou de qualquer outra empresa que tenha atuado no Rio Grande do Sul ou no país.”
O que diz Humberto Kasper:Por mensagem via WhatsApp, declarou: “Não sei sobre o assunto, não sei do que se trata. Por isso, não tenho como me pronunciar”.
O que diz Maria do Rosário: Por vídeo afirmou: “Minha vida é pública, minha vida pessoal é totalmente transparente, sigilo bancário e telefônico estão à disposição. (…) Eu não devo nada em padrões éticos à politica nacional e não admitirei ser citada em nada que diga respeito a isso. Vou seguir lutando e não vou me afastar das coisas que acredito, não vou permitir que detratores utilizem meu nome negativamente e espero que tudo isso seja muito rapidamente resolvido, porque meu nome e minha vida não estão à disposição para serem enxovalhados por quem quer que seja em nenhum lugar”.
O que diz Yeda Crusius: Em rede social publicou: “A todos os que buscam minha manifestação: o Ministro Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, ofereceu hoje listas de centenas de pessoas indicadas pelo PGR Rodrigo Janot para abertura de inquérito. Numa delas consta meu nome. Transparência é fundamental, e aguardamos ainda o levantamento do sigilo das delações que embasaram a decisão do Procurador Janot e do Ministro Fachin. Embora desconhecendo ainda as razões que o levaram a elaborar estas listas, considero fundamental tanto a Lava Jato quanto o trabalho do Supremo para que os inquéritos hoje autorizados sejam feitos e concluídos com a celeridade requerida por mim e por toda a população brasileira, separando o joio do trigo e promovendo a Justiça de que tanto o país precisa. Caso contrário cria-se a imagem de que todos os políticos são iguais. E não somos”.
A reportagem ainda tenta contato com Marco Arildo Prates da Cunha.